Na tarde desta sexta-feira, dia 30/10, o movimento feminista
de Fortaleza ocupou o centro da cidade com suas bandeiras, faixas, cartazes e
gritos de guerra. Articulado de última hora o ato reuniu em seu ponto alto algo
em torno de 400 a 500 pessoas que saíram em passeata pelas ruas do centro da
cidade e foi uma prova concreta de que é possível unificar distintos setores do
movimento feminista e na unidade mobilizar setores não organizados.
Participaram do ato mulheres da UBES, UNE, ANEL, PT, PSTU, PSOL, RUA, Marcha
Mundial de Mulheres, Fórum Cearense de Mulheres, representações de várias
entidades estudantis (DCE, CAs e grêmios) além de homens e mulheres
simplesmente indignados com o brutal ataque que representa o PL 5069/13 de
Cunha.
Este projeto recém aprovado atinge em cheio as mulheres da
classe trabalhadora vítimas de estupro, ao modificar uma Emenda do Código Penal
de 1940, prevendo prisão de 4 a 8 anos para quem vier auxiliar ou instruir o
aborto, e de 5 a 10 anos caso essa pessoa seja da área da saúde, podendo a pena
ainda aumentar em um terço caso a mulher que venha a fazer o aborto seja menor
de idade. O que é muito mais criminoso é que se a mulher vier a ter complicação
na gestação ela não poderá receber nenhum auxilio medico mesmo que seja para
reduzir danos a sua vida... Vale perguntar: isso não pode ser tipificado como
ausência de socorro a vitima? Na nossa compreensão, sim. O absurdo é tão grande
que abre brecha para que uma simples conversa ou palestra sobre a defesa do
aborto possa ser interpretada como instrução ou orientação e por sua vez um ato
criminoso passível de prisão.
O cenário é de um show de horror sem fim quando somamos os
ataques aos direitos básicos, como a própria vida no caso em questão, ao
cenário de aumento da violência e repressão policial. O ato de Fortaleza nos deu uma pequena
amostra do que os poderosos nos reservam. Em determinado momento de nossa passeata
a polícia sorrateiramente prendeu um rapaz que pichava a frase “Machistas não
passarão” e o que se viu a seguir foi uma truculência inexplicável acompanhada
do óbvio e necessário rechaço dos manifestantes à ação da PM que chegou
inclusive a bater em mulheres que tentaram ajudar o rapaz.
Não se dando por satisfeita pela prisão do garoto a PM
deixou o ato seguir para saírem correndo com armas de fogo em punho, atirando
para o alto e revistando retardatários numa
clara tentativa de dispersar o movimento que felizmente foi frustrada. Apesar
da intimidação o ato foi uma vitória do Movimento feminista que resiste e
resistirá tanto a ataques do governo e do parlamento como o do aparato policial
fascista.
Não dá pra aguentar mais Cunha que mesmo envolvido em escândalos
de corrupção, vem desde o inicio do ano de 2015 atacando todos os
trabalhadores, com projetos que criminalizam os movimentos sociais, aumentam a
famigerada terceirização, proibem a discussão de gênero no espaço escolar,
estabelecem o conceito de família e agora mais esse destinado diretamente a nós
mulheres vítimas da cultura do estupro de nossa sociedade machista e opressora.
Não dá pra aguentar uma presidente mulher blindando tais
parlamentares em nome da tão falada governabilidade. Chamamos a todos os
ativistas a cerrar fileiras para barrar o PL 5069 e derrubar imediatamente
Eduardo Cunha da presidência do Congresso, derrotando assim também essa
vergonhosa política petista de protegê-lo a todo custo. Querem fazer do direito
ao aborto seguro moeda de troca para calar os fundamentalistas. Não
permitiremos. Já foram longe de mais e daqui não passarão.